Catarina vem da junção: “Catha”, que significa total, e “ruin” que significa ruína: portanto, “ruína total”. Realmente, o prédio do diabo foi totalmente demolido dentro de Santa Catarina: o edifício do orgulho, destruído pela sua humildade, aquele da concupiscência carnal, pela virgindade que ela preservou, e aquele da cobiça terrestre, pelo menosprezo a todo tipo de bens mundanos. O nome Catarina pode vir ainda de “catenula”, uma pequena corrente: através de seus bons trabalhos, ela formou para si uma corrente pela qual subiu até o Céu. Esta corrente ou escada, possui quatro degraus, que são: a inocência de ação, pureza de coração, desprezo pela vaidade e a verdade. As propostas destes degraus, um a um são: — “Quem subirá à montanha do Senhor?…o que tem mãos limpas e puro de coração, que não conduziu em vão sua alma, nem testemunhou em falso enganando seu próximo.”
Como estes quatro degraus estavam presentes na santificada vida de Catarina, tornar-se-á claro, à medida que lemos sua história. Catarina, a filha do Rei Costus, foi bem instruída em todos estudos liberais. Quando Catarina tinha dezoito anos, o imperador Maxentius convocou a todas pessoas, tanto ricos como os pobres a irem a Alexandria a fim de oferecer sacrifícios aos ídolos, e perseguia os cristãos que se recusavam a fazê-lo. Nesta época, Catarina morava sozinha num palácio repleto de tesouros e com muitos criados, ouviu os berros dos animais e as aclamações dos cantores e depressa enviou um mensageiro para descobrir o que se passava. Ao tomar conhecimento dos fatos, reuniu algumas pessoas do palácio e protegendo-se com o Sinal da Cruz, saiu e viu muitos cristãos preparando-se para oferecer sacrifícios por terem medo de morrer. Lamentando profundamente o que viu, ela encaminhou-se corajosamente a frente do imperador e disse-lhe: — “Ambos, a dignidade de sua posição e os ditames da razão, me aconselharam a lhe saudar oh imperador, se reconhecer o Criador dos Céus e renunciar à adoração de falsos deuses.” Colocando-se na entrada do templo, ela discutiu longamente com o imperador através do raciocínio silogístico, bem como por alegorias e metáforas e, inferências lógicas e místicas. Então, revertendo a linguagem coloquial acrescentou: — “Eu me preocupei em propor-lhe estes pensamentos como uma pessoa sábia, mas permita-me perguntar-lhe: por que reuniu vaidosamente esta multidão para adorar a estupidez de ídolos? O senhor fica maravilhado perante este templo construído pelas mãos dos artesãos. O senhor admira ornamentos preciosos que, com o tempo, serão como a poeira que se desfaz diante da face do vento. Maravilhe-se do mundo, da terra e o mar e tudo que existe neles. Maravilhe-se diante dos seus ornamentos, o sol, a lua a as estrelas e tudo quanto eles fazem – como desde o princípio do mundo até seu fim, de noite e de dia, eles correm ao oeste, voltam para o leste, sem nunca se cansarem. Tome nota de todas estas coisas, para então perguntar e aprender, quem é mais poderoso que eles; e quando por graça dEle, chegar a conhecê-lo sem conseguir encontrar nada, ninguém que se assemelhe, adore-o, dê-lhe glórias, pois Ele é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores.” Ela continuou discursar intensiva e sabiamente a respeito da encarnação do Senhor. O imperador ficou tão atônito, que não podia lhe responder. Mas, ao recuperar-se, disse: — “Por favor, ó senhora, deixe-nos terminar o nosso sacrifício, e depois voltaremos a esta discussão.” Ele ordenou que a acompanhassem de volta ao palácio, onde ela permaneceu sob forte guarda. O imperador ficou assombrado de admiração pelo seu conhecimento e pela sua beleza. Realmente ela era linda de se ver, era de uma beleza inacreditável e vista por todos como, admirável e graciosa. O imperador então foi ao palácio e disse à Catarina: — “Ouvimos sua eloqüência e admiramos seus conhecimentos, mas estávamos tão compenetrados em adorar nossos deuses, que não conseguimos acompanhar tudo o que disse. Agora, comecemos por ouvir a respeito de sua antecedência.” Respondeu Santa Catarina: — “Está escrito, que não se deve falar de si, nem por meio de elogios, nem por depreciação; as pessoas tolas assim o fazem pelo prazer da glória oca. Mas atesto sobre minha origem, não com presunção, mas com amor e humildade. Sou Catarina, filha única do Rei Costus, embora nascida dentro da realeza e bem instruída nas disciplinas liberais, dei as costas a tudo isso e refugiei-me no Senhor Jesus Cristo. Os deuses que você adora, não podem ajudar nem a si próprios, nem a mais ninguém. Ó devotos infelizes de ídolos que, quando chamados na hora da necessidade, não estão presentes; que não oferecem nenhum socorro na tribulação, nenhuma defesa no perigo!” Ao que respondeu o imperador: — “Se as coisas são como você diz que são, então está enganado o mundo inteiro e apenas você fala a verdade! Entretanto, visto que cada palavra se confirma pela boca de duas ou três testemunhas, ninguém precisaria dar-lhe crédito, mesmo que fosse um anjo ou outra potência celestial, e muito menos em vista de, obviamente, não ser mais do que uma mulher frágil!” A isto Catarina respondeu: — “Eu lhe imploro, ó César, não se deixe levar pela ira, visto que a perturbação calamitosa inverte a mente de um homem sábio, pois como diz o poeta: se for regido pela mente és rei, se pelo corpo és escravo.” Disse então o imperador: — “Vejo que agora está determinada a nos apanhar através de sua astúcia pérfida, à medida que tenta prolongar esta discussão citando os filósofos.” Maxentius compreendeu então, que não podia competir com o conhecimento de Catarina e secretamente enviou cartas a todos os mestres de lógica e retórica, ordenando a comparecerem rapidamente a corte de Alexandria, com a promessa de recompensas vultuosas, se pudessem superar esta fêmea demagoga com seus argumentos. Cinqüenta oradores, que superaram todos os mortais em todas as linhas do conhecimento humano, vieram de várias províncias e uniram-se. Foram ter com o imperador, a razão de sua convocação de lugares tão longínquos, aos quais ele respondeu: — “Temos aqui uma donzela sem igual tanto em compreensão como em prudência. Ela refuta todos os sábios e declara que nossos deuses são demônios. Se puderem superá-la, voltarão para casa ricos e famosos.” Neste instante, um dos oradores exclamou, com a voz trêmula de indignação: — “Ó profundo, pensamento profundo do imperador, que devido a uma disputa insignificante com uma donzela, reuniu sábios dos confins da terra, quando qualquer um dos nossos discípulos poderia tê-la silenciado com a maior facilidade!” Mas o César retorquiu: — “Eu poderia realmente tê-la forçado a oferecer sacrifícios, ou livrar-me dela com a tortura, mas achei melhor que fosse refutada de uma vez por todas de seus argumentos.” Então disseram-lhe os mestres: — “Traga a donzela perante nós! Que ela sinta vergonha de sua imprudência, que ela reconheça não ter antes visto homens sábios!” Quando informaram à Catarina a respeito da disputa que a aguardava, ela se entregou inteiramente a Deus e imediatamente, um anjo do Senhor colocou-se ao seu lado e admoestou-a a permanecer firme assegurando-lhe ser impossível que ela fosse derrotada por estas pessoas; e mais ainda, ela as converteria e as colocaria no caminho do martírio. Então, Catarina foi levada à presença dos oradores. Indagou ela: — “É justo colocar cinqüenta homens contra uma moça, com a promessa de que, ao ganhar, receberão uma rica recompensa, forçando-me a lutar sem a esperança de prêmio? … entretanto, minha recompensa será o Senhor Jesus Cristo, que é a esperança e a coroa daqueles que lutam por Ele.” Iniciou-se o debate, e, quando disseram os oradores ser impossível para Deus tornar-se homem ou sofrer, Catarina mostrou ter sido isto já previsto, mesmo por pagãos! Platão mostrou um Deus assediado e mutilado. Sibila, também dizendo: “- Feliz é o Deus que é suspenso em uma árvore alta!” e a virgem prosseguiu a contradizer os oradores com extrema habilidade e os refutou com um raciocínio claro e convincente, até o ponto que eles, não encontraram mais respostas, reduzindo-se tudo ao silêncio. Este fato provocou novas manifestações de ira por parte do imperador, que passou a insultar os oradores, por deixarem que uma menina os fizesse de bobos. Um dentre eles, o decano, manifestou-se: — “Deverá saber, ó César, que ninguém jamais foi capaz de nos enfrentar e não ser derrubado de imediato, porém, esta jovem mulher pela qual o Espírito de Deus fala, nos respondeu de uma maneira tão admirável, que, ou não sabemos o que dizer contra Cristo, ou tememos dizer qualquer coisa! – Portanto, ó imperador, declaramos firmemente que, a não ser que possa propor uma opinião mais sustentável a respeito dos deuses que até agora adoramos, seremos todos convertidos a Cristo!” Ao ouvir isto, o imperador enfurecido, fora de si, ordenou que queimassem todos no meio da cidade. Com palavras de encorajamento a virgem fortaleceu-os diante da resolução de martírio, diligentemente os instruiu na fé. Quando ficaram preocupados porque morreriam sem terem sido batizados, ela lhes disse: — “Não tenham medo, o derramamento de seu sangue, contará a seu favor como batismo e coroa!” Protegeram-se com o Sinal da Cruz e foram lançados às chamas, entregando assim suas almas ao senhor. Aconteceu que, nenhum fio de cabelo de suas cabeças, nem um fragmento de seus vestuários, foi sequer chamuscado pelo fogo. Em seguida os cristãos os enterraram. O tirano então se dirigiu à virgem: — “Ó donzela nascida da nobreza, pense na sua juventude. No meu palácio estará em segundo lugar, logo após a rainha. Erguer-se-á no centro da cidade, sua imagem; será adorada por todos como uma deusa!” Ao que exclamou Catarina: “Pare de falar tais coisas! É um crime, mesmo só em pensá-las! Eu me entreguei como noiva de Cristo, e Ele é minha glória, Ele é meu amor, minha doçura e meu deleite. Nem louvores, nem torturas me afastarão de Seu amor!”…Voltou então, a manifestar-se toda a ira do imperador, ordenando então, que ela fosse trancafiada durante doze dias em uma cela escura, onde ela padeceu com dores e fome. O imperador então, saiu da cidade a fim de cuidar de assuntos do Estado. Ao anoitecer, a rainha abrasada pelo amor, resolveu ir apressadamente a cela da virgem acompanhada do capitão da guarda cujo o nome era Porphyrius. Ao entrar, a rainha viu que a cela estava cheia de uma luz indescritível e que os anjos, cuidavam das feridas da virgem. Imediatamente, Catarina começou a lhe pregar sobre as alegrias do céu, convertendo-a à fé; predisse-lhe que ela, a rainha, receberia a coroa de mártir. Assim, conversaram até depois da meia noite. Porphyrius, após ter ouvido tudo, jogou-se aos pés da santa e juntamente com duzentos soldados, reconheceu a fé em Cristo. Ainda, visto ter o tirano ordenado que Catarina ficasse durante doze dias sem alimento, Cristo enviou do céu uma pomba resplandecente restaurando-a com viveres celestiais durante aqueles dia. Eis que então apareceu-lhe o Senhor com uma multidão de anjos e virgens e lhe disse: — “Ó filha, reconhece o seu Criador, em cujo nome você submeteu-se a um conflito árduo. Seja perseverante pois estou contigo!” Na sua volta, o imperador mandou trazer Catarina à sua presença. Esperava encontrá-la esgotada pelo jejum prolongado, mas, ao invés disto, viu-a ainda mais radiante. Pensando ter sido ela alimentada por alguém, ficou tão furioso que mandou torturar os guardas. Entretanto a virgem lhe disse: — “Não recebi alimento de nenhum homem, porém o Cristo me alimentou através de um anjo.” O imperador insiste: — “Considere minha advertência, eu lhe imploro, não me apresente mais suas respostas duvidosas. Não desejamos ganhá-la como mera criada, será uma rainha poderosa dentro do meu reino, escolhida honrada, triunfante!” Catarina coloca: — “Agora você, preste atenção; eu imploro, e, depois de uma consideração ponderada à minha pergunta, dê uma decisão honesta: – Quem deveria eu escolher: um que é poderoso, eterno, glorioso e honrado, ou um que é fraco, mortal, ignóbil e feio?” Indignado Maxentius retorquiu: — “Agora escolha um ou outro para você : oferecer sacrifícios e viver, ou submeter-se à tortura aguda e morrer!” Catarina responde: — “Quaisquer tormentos que tenha em mente, é perda de tempo. Meu único desejo é oferecer minha carne e meu sangue a Cristo como Ele se ofereceu a mim. Ele é meu Deus, meu amante, meu pastor e meu único esposo.” Um certo prefeito instigou o monarca a preparar dentro de um prazo de três dias, quatro rodas com serras de ferro e pregos de ponta afiada embutidos, para desta forma, com estes instrumentos horríveis, estraçalhar a virgem, deixando assim aterrorizados o restante dos cristãos, com uma morte tão terrível. Além disto, mandou que duas das rodas rodassem em uma direção, e as outras duas na direção oposta, de modo que a donzela seria rasgada, mutilada pelas duas rodas que se aproximariam dela por cima e mastigada pelas outras duas que viriam por baixo. Mas, a santa virgem rezou ao Senhor para que destruísse o engenho pela glória de Seu nome e pela conversão do povo ao redor; então, imediatamente um anjo do Senhor golpeou o engenho com tanta força que o destruiu, ocasionando a morte de mil pagãos. A rainha que até então não se mostrara, observara de um lugar elevado os acontecimentos. Desceu e repreendeu severamente o imperador pela crueldade. O imperador enfureceu-se e quando, ainda a rainha recusou-se a oferecer sacrifícios, ordenou que primeiro lhe fossem arrancados os seios, para depois cortarem-lhe a cabeça. Ao ser levada para seu martírio, rogou a santa Catarina que rezasse a Deus por ela. Disse-lhe a santa: — “Não temas, ó rainha amada por Deus, pois hoje ganhará o reino eterno no lugar do transitório e um esposo imortal ao invés de um mortal.” A rainha assim fortalecida em sua resolução, exortou os carrascos a não demorarem na execução das ordens. Eles a conduziram para fora da cidade, arrancaram-lhe os seios com lanças de ferro e depois cortarem-lhe a cabeça. Porphyrius, pegou o seu corpo e o enterrou. No dia seguinte, quando sem êxito procurou-se o corpo da rainha, o tirano ordena que se interroguem muitos sob tortura. Porphyrius apareceu repentinamente e declarou: “Sou eu a pessoa que enterrou a criada de Cristo e aceita a fé cristã!” Maxentius, fora de si, emitiu um rugido terrível e exclamou: — “Ai de mim, miserável como sou e digno de piedade por todos, agora até Porphyrius, único guardião da minha alma e conforto em toda minha labuta; até mesmo ele foi enganado!” Dito isto, voltando-se para seus soldados, eles prontamente responderam: — “Nós também somos de Cristo, estamos prontos para morrer!” O imperador, embriagado de fúria, mandou decapitar a todos, junto com Porphyrius, para depois atirar seus corpos aos cães. Em seguida mandou chamar Catarina e lhe disse: — “Mesmo que tenha usado de artifícios mágicos para levar a rainha à morte, se agora já voltou ao bom senso, será a primeira dama dentro do meu palácio. Hoje portanto oferecerá sacrifício aos deuses ou perderá a cabeça.” Sua resposta foi:— “Faça qualquer coisa que tenha em mente fazer. Encontrar-me-á preparada para agüentar qualquer coisa que seja!” Ela foi então condenada à morte por decapitação. Ao ser levada para o lugar de execução, levantou os olhos ao céu e rezou: — “Ó esperança e glória das virgens, Jesus, o bom Rei, rogo-lhe que qualquer um que prestar homenagem à minha paixão, ou que me invocar no momento da morte ou de qualquer necessidade, receba o benefício da Tua bondade.” Ouviu-se uma voz que lhe disse: — “Venha amada, minha esposa e veja! Os portões do céu abriram-se para você e para aqueles que celebrarem a sua paixão com as mentes devotas. Prometo a ajuda do céu para o que me pediste em oração.” Quando a santa foi decapitada, fluiu leite de seu corpo ao invés de sangue. Os anjos pegaram seu corpo e o levaram daquele lugar numa viagem de vinte dias até o Monte Sinai, onde foi enterrada com honras. (Emana ainda, continuamente de seus ossos, um óleo que recupera os membros de todos aqueles que são fracos.) Ela sofreu sob o tirano Maxentius ou Maximinus, cujo reinado iniciou-se a redor de 310 D.C.. Como foi punido Maxentius por este e outros crimes, é contado no livro “História do Encontro da Cruz Sagrada.” Diz-se que um certo monge de nome Rauen, viajou ao Monte Sinai e lá permaneceu durante sete anos, dedicando-se ao serviço de Santa Catarina. Rezava para que fosse digno de receber uma relíquia de seu corpo. De repente partiu-se um dos dedos da mão da santa. O monge recebeu a dádiva de Deus com alegria e o levou para o mosteiro. Diz-se também, que um homem que dedicara-se a santa Catarina e que muitas vezes lhe suplicava ajuda, tornou-se descuidado com o decorrer do tempo, perdendo sua devoção, não rezava mais para ela. Então de uma feita, quando rezava, teve uma visão de uma procissão de virgens que passava, dentre elas, uma aparecia mais resplandecente que as outras. Quando ela estava muito próxima a ele, cobriu o rosto, passando assim na sua frente com o rosto velado. Por ter ficado profundamente impressionado com sua beleza, ele perguntou quem era ela, ao que uma das virgens respondeu: — “Aquela é Catarina, que você conhecia, mas agora, que parece não conhecê-la, ela passou com o rosto velado como uma desconhecida.” Vale notar que a abençoada Catarina é admirável sob cinco aspectos: primeiro, em sabedoria, segundo, em eloqüência, terceiro em constância, quarto na pureza da castidade e quito na dignidade privilegiada. Ela é vista como admirável primeiramente, pois possuía todo tipo de filosofia. A filosofia ou sabedoria se divide em teórica, prática e lógica. A teórica, segundo alguns pensadores, se divide em três partes – a intelectual, a natural e a matemática. Santa Catarina possuía no seu conhecimento dos mistérios divinos, conhecimento este que ela usou especialmente nos seus argumentos contra os retóricos, aos quais ela provou existir um Deus único e aos quais convenceu de que todos os outros deuses eram falsos. Ela possuía a filosofia natural dentro de seu conhecimento de todos os seres abaixo de Deus, conhecimento este que ela usou nas suas diferenças com o imperador, como já vimos. A matemática demonstrou por seu desdém às coisas terrenas, pois de acordo com Boethius, esta ciência se preocupa com as formas abstratas, imateriais. Santa Catarina toma, adquire este conhecimento, quando afastou sua mente do amor material. Mostrou que o possuía quando, em resposta à pergunta do imperador sobre suas origens, ela respondeu: “Sou Catarina, filha do Rei Costus. Embora nascida na realeza…” e assim por diante; e a usou principalmente com a rainha, quando a encorajou a desprezar o mundo, a pensar pouco em si própria e a desejar o reino do céu. A filosofia prática se divide em três partes, ou seja, a ética, a econômica e a pública ou política. A primeira ensina como fortalecer o comportamento moral e se adornar com virtudes, e, se aplica às pessoas como indivíduos; a segunda, ensina como colocar a vida da família dentro de uma boa ordem, se aplica ao pai como cabeça da família; a terceira, ensina como governar bem uma cidade, o povo e a comunidade, e, se aplica aos governantes. Santa Catarina possuía este triplo conhecimento; o primeiro, visto que organizou a vida de acordo com o padrão moralmente correto, o segundo que regeu de uma maneira louvável o grande estabelecimento doméstico que ela herdou; o terceiro quando ela passou seus conhecimento ao imperador, instruindo-o sabiamente. A filosofia lógica também se divide em três partes: a demonstrativa, a provável e a sofistica. A primeira pertence ao filósofos, a segunda aos retóricos, a terceira aos sofistas. Catarina possuía este triplo conhecimento, visto que foi escrito que ela discutiu com o imperador sobre muitos assuntos através de uma variedade de conclusões silogística, metafórica, dialética e mística. Em segundo lugar, a eloqüência de Catarina é admirável; era abundante quando pregava, como pudemos observar, extremamente convincente em seu raciocínio como quando fala ao imperador: “- O senhor fica maravilhado perante este templo construído pelas mãos dos artesãos.” O poder de sua fala fica claro nos casos de Porphyrius e da rainha, a quem a doçura de sua eloqüência, atraiu à fé. Era habilidosa em convencer, como vimos ao conquistar os oradores. Em terceiro lugar, consideremos sua constância: Era constante em face às ameaças, indo de encontro a elas com desdém, como quando o imperador a ameaçou e ela respondeu: — “Quaisquer tormentos que tenha em mente, é perda de tempo.” ou novamente, “- Faça qualquer coisa que tenha em mente fazer. Encontrar-me-á preparada…” Era firme ao tratar-se de oferta de dádivas, que ela desprezava, como observamos quando o imperador prometeu colocá-la em segundo lugar em seu palácio, tendo somente a rainha acima dela, e ela respondeu: — “Pare de falar tais coisas! É um crime, mesmo só em pensá-las!” Demonstrou ainda sua constância sob tortura, superando-a, como notamos quando foi encarcerada ou estava na roda. Em quarto lugar, Catarina era admirável pela sua castidade que ela preservou, mesmo em meio a condições que normalmente a colocaria em risco. Há cinco condições de risco presentes, tais como: a riqueza material, que esmorece a resistência, a oportunidade, que convida à indulgência, a juventude, que se tende à licenciosidade, a liberdade que isenta a restrição e, a beleza que seduz. Catarina teve todas estas condições e mesmo assim, preservou sua castidade. Tinha abundante riqueza material herdada dos pais; tinha oportunidade de ser patroa cercada por serviçais o dia todo; tinha juventude e liberdade vivendo em seu palácio sozinha. Destas quatro condições dizia-se acima de tudo, que Catarina, quando tinha dezoito anos, morava sozinha num palácio e repleto de tesouros e servos. Ela era bela como foi relatado: “- Realmente ela era linda de se ver, era de uma beleza inacreditável. Finalmente, era admirável pela dignidade privilegiada. Alguns santos receberam privilégios especiais: por exemplo, a visitação de Cristo (São João, o Teólogo), fluxo de óleo (São Nicolau), efusões (São Clemente) e, a audição de petições (Santa Margarida de Antióquia, quando rezou por aqueles que honrassem sua memória). A história de Santa Catarina, mostra que possuía todos estes privilégios. Algumas pessoas levantaram dúvidas se o martírio de Santa Catarina aconteceu sob o reinado de Maxentius ou de Maximinus. Neste período, havia três imperadores, a saber, Constantino, que sucedeu seu pai como imperador, Maxentius, o filho de Maximianus, nomeado imperador pela guarda pretoriana em Roma e Maximinus, que se tornou césar em parte do leste. De acordo com as crônicas, Maxentius tiranizou os cristãos em Roma, Maximinus no leste. Parece então, como afirmam alguns autores, que um erro do escritor, pode ser a razão de colocar Maxentius no lugar de Maximinus.
Outras comemorações do dia:
- São Mercúrio, Grande Mártir da Cesaréia na Capadócia († 250)