São João, que em hebraico significa “Deus concede a graça”, na tradição bizantina é chamado habitualmente “o Teólogo”, título reservado a poucos e, particularmente, apropriado ao Apóstolo, sempre citado entre os primeiros, cuja insigne doutrina, através do seu evangelho, das Epístolas e do Apocalipse, tem nutrido a Igreja de todos os tempos. Enquanto os fiéis latinos celebram a festa de São João em 27 de dezembro, os fiéis do Oriente bizantino comemoram solenemente esse santo duas vezes: em 26 de setembro, dia da Dormição do Apóstolo (isto é, dia da sua morte) e no dia 8 de maio. O tropário e o kondakion são os mesmos nas duas festas, e também boa parte do ofício próprio do santo, contido nos Minéa, é comum. Dos textos do Ofício podemos depreender todos os dados essenciais da biografia do mais moço dos doze Apóstolos, o qual teve também o privilégio de testemunhar o Cristo até a idade mais avançada. O primeiro texto sobre São João, nos é informado que ele é filho de Zebedeu e que a ele foi dado a graça das visões apocalípticas e de chamar Deus de amor. Ele é lembrado como o “Filho do Trovão” e com freqüência somos admoestados pelo seu ensinamento sobre o “Verbo que era desde o princípio e que estava junto do Pai inseparavelmente; igual a Ele na natureza”.
II
João, filho de Zebedeu e de Salomé, irmão de Tiago Maior, de profissão pescador, originário de Betsaida, como Pedro e André, ocupa um lugar de primeiro plano no elenco dos apóstolos. O autor do quarto Evangelho e do Apocalipse, será classificado pelo Sinédrio como indouto e inculto. No entanto, o leitor, mesmo que leia superficialmente os seus escritos, percebe não só o arrojo do pensamento, mas também a capacidade de revestir com criativas imagens literárias os sublimes pensamentos de Deus. A voz do juiz divino é como o mugido de muitas águas. João é sempre o homem da elevação espiritual, mais inclinado à contemplação que à acção. É a águia que desde o primeiro bater das asas se eleva às vertiginosas alturas do mistério trinitário: “No princípio de tudo, aquele que é a Palavra já existia. Ele estava com Deus e ele mesmo era Deus.” Ele está entre os mais íntimos de Jesus e nas horas mais solenes de sua vida João está perto. Está a seu lado na hora da ceia, durante o processo, e único entre os apóstolos, assiste à sua morte junto com Maria. Mas contrariamente a tudo o que possam fazer pensar as representações da arte, João não era um homem fantasioso e delicado. Bastaria o apelido humorista que o Mestre impôs a ele e a seu irmão Tiago: “Filhos do trovão” para nos indicar um temperamento vivaz e impulsivo, alheio a compromissos e hesitações, até aparecendo intolerante e cáustico. No seu Evangelho designa a si mesmo simplesmente como “o discípulo a quem Jesus amava.” Também se não nos é dado indagar sobre o segredo desta inefável amizade, podemos adivinhar uma certa analogia entre a alma do Filho do homem e a do filho do trovão, pois Jesus veio à terra não só trazer a paz mas também o fogo. Após a ressurreição, João está quase constantemente ao lado de Pedro. Paulo, na epístola aos gálatas, fala de Pedro, Tiago e João como colunas na Igreja. No Apocalipse, João diz que foi perseguido e degredado para a ilha de Patmos “por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo”. Conforme uma tradição unânime ele viveu em Éfeso em companhia de Maria e sob o imperador Domiciano foi colocado dentro de uma caldeira com óleo a ferver, mas saiu ileso e todavia com a glória de ter dado testemunho. Depois do exílio de Patmos voltou definitivamente para Éfeso, onde exortava continuamente os fiéis ao amor fraterno, resultando em três cartas, acolhidas entre os textos sagrados, assim como o Apocalipse e o Evangelho. Morreu carregado de anos em Éfeso durante o império de Trajano (98-117), onde foi sepultado.
Outras comemorações do dia:
Santa Emília, mãe de São Basílio, o Grande;
Santo Arsênio, o Grande, Monge († 450);
São Vítor, o Mouro, Mártir († 303).