Santa Bárbara era de Heliópolis, Fenícia, e viveu durante o reinado de Maximiano. Era filha de um certo Dióscoro, adorador de ídolos. Quando Barbara chegou à maioridade, ela recebeu a iluminação da fé e, em seu coração puro passou a crer secretamente na Santíssima Trindade. Foi nesta época que Dióscoro começou a construir uma casa de banho; antes de terminar, porém, viu-se na necessidade de viajar para cuidar de certos assuntos e, na sua ausência, Bárbara orientou os operários a construir uma terceira janela, além das duas que seu pai Dióscoro havia planejado e ordenado. Com o dedo, inscreveu o sinal da cruz no mármore da casa de banho, ficando tão profundamente marcado como se houvesse feito com uma ferramenta cortante. (Quando o Synaxarion de Santa Bárbara foi escrito, o mármore da casa de banho e a cruz inscrita por Santa Bárbara ainda estavam preservados, e muitas curas foram operadas lá.)
Quando Dióscoro retornou, perguntou por que a terceira janela havia sido acrescentada; Bárbara então passou a narrar-lhe o mistério da Trindade. Recusando-se a renunciar à sua fé, Dióscoro a submeteu a torturas e, depois de muitos sofrimentos, ele a decapitou com suas próprias mãos, no ano de 290.
São João Damasceno, mon. († 749)
Depois que a grande cidade de Damasco, metrópole da Síria caiu sob os muçulmanos no ano 635, os cristãos foram submetidos a muitas desvantagens em ralação aos demais cidadãos, obrigados a pagar tributos aos seus dominadores árabes. Na época do Califa Abdul-Malek (685-705), todos os assuntos relacionados aos cristãos era de responsabilidade de Sérgio Mansur, homem de confiança do Califa, e que vinha de uma das importantes famílias cristãs da cidade. Por volta do ano 675, nasceu um homem temente a Deus e de muita sinceridade, nosso Santo Pai João, “a harpa do Espírito Santo”. Desde sua infância foi educado num ambiente onde predominavam as virtudes da caridade, do amor ao próximo, do socorro aos mais necessitados, sobretudo na pessoa de seu pai que investiu sua riqueza no resgate e libertação dos prisioneiros cristãos. João cresceu em idade e sabedoria, ao lado de seu irmão Cosme (cf. 14 oct) que, tendo perdido seus pais, foi recebido em adoção por Sérgio. A educação dos meninos foi então confiada ao monge Cosme, um erudito italiano resgatado dos árabes por Sérgio. Cosme os instruiu na filosofia em todas as ciências de seu tempo. Viva inteligência e modéstia nas atitudes lhes propiciou um rápido progresso nos estudos, especialmente nas artes, poesia e música. Assim, ao final de alguns anos, o mestre reconheceu que já não mais o que ensinar aos seus alunos, obtendo assim a permissão de Sérgio para retirar-se à Lavra de São Savas, onde desejava viver o resto de seus dias. Tendo adquirido um perfeito conhecimento do árabe e do grego, João juntou-se ao seu pai adotivo na administração, mostrando sua grande capacidade nestas tarefas, o que lhe garantiu que, após a morte de Sérgio, fosse nomeado como seu sucessor pelo Califa Walid (705-715).
Quando Leão III, o Saurio (717-741) começou a perseguir a Igreja Cristã no Imério Romano, atacando a piedosa devoção aos santos ícones, São João lançou uma defesa vigorosa da fé através de suas muitas cartas que escreveu em Damasco aos seus correspondentes no império, estabelecendo as bases teológicas da veneração dos santos ícones com base nas Sagradas Escrituras e nos escritos dos Santos Padres. Assim fazendo, João atraiu sobre si o ódio de Leão que tentou livrar-se dele por meio de uma falsa carta na qual, João, aparentemente, sugeria ao imperador que tomasse Damasco. Tal carta foi apresentada ao Califa que, furioso por seu conteúdo, ordenou a seu conselheiro que João tivesse sua mão direita decepada. Na tarde deste mesmo dia João depositou sua mão decepada diante do ícone da Mãe de Deus e, em lágrimas, por várias horas suplicou à soberana do mundo que pudesse ter de volta a sua mão. Caindo em ligeiro sono, viu que o ícone ganhava vida, e que a Virgem o consolava. Ao despertar, ficou perplexo e maravilhado ao ver sua mão direita restaurada. Desde aquele momento, fez votos de dedicar-se inteiramente ao louvor à Virgem Mãe de Deus e ao nosso Salvador, e à defesa da Santa Fé Ortodoxa. Renunciou sua posição na administração, distribuiu sua fortuna e partiu para Jerusalém com Cosme para tornar-se monge na Lavra São Savas. O abade colocou João sob a orientação de um ancião experimentado nas virtudes e muito austero, que lhe proibiu logo o contato com tudo o que estivesse relacionado com a filosofia, ciências, poesia, música ou leituras, dedicando-se a ele mesmo e sem queixar-se das tarefas domésticas, a fim de desenvolver as virtudes da obediência e humildade. Certo dia, no entanto, apesar da proibição de seu pai espiritual, João ficou comovido pelas súplicas de alguém que havia perdido seu pai espiritual, compondo para seu consolo um hino que é usado até os nossos dias. Quando seu pai espiritual soube deste seu ato de desobediência, pediu a João que recolhesse com as mãos todo o lixo do monastério, o que João, sem dizer uma palavra, tratou de fazê-lo. Dias depois, a Mãe de Deus apareceu ao ancião e lhe pediu que, dali em diante, deixasse seu discípulo compor hinos e poemas que podiam mesmo superar os salmos de Davi e as Odes dos santos Profetas, dada a sua beleza e doçura. João, inspirado pelo Espírito Santo, como o doce som de uma harpa, deu voz, com perfeita harmonia, a um grande número de hinos que expressam a mais profunda percepção teológica do Pai da Igreja: escreveu o cânon que é cantado na Páscoa e compôs a maior parte de “Octoechos” (Oito tons) da Ressurreição. É também de sua autoria os maravilhosos cânones e as sublimes homilias de muitas das Festas do Senhor, da Mãe de Deus e dos Santos. Além de seus dons poéticos, Deus também lhe brindou com a graça da expressão teológica. Sem acrescentar nada aos dogmas e à doutrina formulada pelos primeiros pais, como: Gregório, o Teólogo, Basílio, o Grande, João Crisóstomo, Gregório de Nissa, Máximo, o Confessor, São João Damasceno, num trabalho de três parte intitulado “A Fonte do Conhecimento”, parte da essência da fé cristã com impressionante concisão e clareza de expressão, de tal modo que, todo o trabalho pode ser considerado como selo e glória máxima da grande época patrística. A terceira seção, “Sobre a Fé Ortodoxa”, é um excepcional acontecimento na tradição cristã e, para os cristãos ortodoxos, é a fonte mais fidedigna em relação a tudo o que diz respeito aos dogmas da fé. João revela os erros das heresias que desviam, para a esquerda e para a direita, a sã doutrina do caminho que conduz ao céu, especialmente em suas contribuições na luta iconoclasta. Em três extensos tratados, compostos entre 726 e 730, indicou claramente as profundas bases teológicas e a necessidade de veneração dos santos ícones e relíquias, ou seja, uma autêntica proclamação da realidade da encarnação do Filho de Deus e da deificação de nossa natureza na pessoa dos Santos. Tendo adiquirido uma verdadeira sabedoria através da humildade e austeridade nos exercícios ascéticos, este filósofo do Espírito Santo adormeceu sua alma na paz do Senhor no dia 04 de dezembro de 749 (ou 753). A caverna, no monastério de São Savas, onde viveu algum tempo como anacoreta, é venerada até os dias atuais.
Outras comemorações do dia:
São Serafim, novo Mártir, Bispo de Fanar na Grécia;
Santo Alexander Hotovitzky, novo Hieromártir da Rússia, Missionário na América;
Santa Juliana, Mártir de Heliópolis.